O Rei Leão talvez seja um dos títulos da Disney mais amados de todos os tempos e é, sem sombra de dúvidas, a animação tradicional mais bem-sucedida da história do estúdio. Desde que Jon Favreau colecionou uma série de resultados positivos com The Jungle Book, a versão live action de Mogli – O Menino Lobo (1967), coube a ele a missão de repaginar um dos esforços o clássico às telonas. O resultado é a certeza de que tudo que foi lançado pela Disney anteriormente tinha como objetivo o acerto deste. Os acertos e erros de live actions anteriores com certeza tornaram-se termômetro para o que viria a ser entregue pelo live action de O Rei Leão. É um casamento de efeitos CGI e personalidades de Hollywood. Não há muitos acréscimos ou mudanças, há muito respeito ao original. Tanto preciosismo se perde na realidade altamente verossímil do filme, tornando-se seu ponto forte tanto quanto seu ponto fraco. A emoção escapa pelas lacunas e se acumula nos cantos, mas não é transmitida por expressões e algo se perde no caminho. Como você demonstra tristeza ou excitação em um animal que é projetado para parecer, por falta de um termo melhor, real? Há momentos em que as vozes dos personagens transmitem dor, alegria ou medo, mas isso raramente se reflete nas expressões faciais dos animais. Ainda assim, há momentos em que a tristeza de Simba ou a ira de Scar, por exemplo, são efetivamente transmitidas com os olhos.
Realidade e emoção conflitam em O Rei Leão
Para ser justo, o remake de O Rei Leão, de 2019, supera o nível de produções anteriores. É maravilhoso ver que da mesma forma que uma tecnologia elegante também é bonita para os olhos. A equipe de tecnologia que o diretor Jon Favreau contratou para recriar falas, canto, leões fotorrealistas e amplas paisagens africanas oferece ao público, por si só, algo completamente novo para assistir. Cada pedaço de grama, hálito de animal soprado e pegada na areia é reproduzido perfeitamente. O nível do CGI presente no remake é um salto tecnológico significativo para o cinema, semelhante ao que vimos acontecer com Homem-Aranha no Aranhaverso (2018) ou Avatar (2009). Mas onde Aranhaverso tinha coração e emoção, assistir ao novo Rei Leão é mais como ver Avatar pela primeira vez. Os espectadores, sem dúvida, ficarão impressionados com o espetáculo, e o mercado de entretenimento como um todo, sem dúvida, vai ter muito o que falar sobre o trabalho que foi feito nesse longa. Dada a quantidade de bilheteria prevista, é muito provável que, assim como Avatar em sua época, o Rei Leão vai gerar uma nova onda de imitadores estilísticos. Mas será que vai oferecer algo novo ou duradouro para a conversa cultural, além de algumas novas faixas de Beyoncé? Ele constrói em 1994 o original animado de alguma forma ou oferece uma nova reviravolta no enredo baseado em Hamlet? Não muito.
Mesma história, novas vozes
A história é a mesma de sempre. O jovem leão Simba (JD McCrary como um filhote, Donald Glover quando adulto) é o futuro rei da Pedra do rei, terras que se estendem até onde o Sol toca, governada por seus pais Mufasa (James Earl Jones, retornando ao seu papel do desenho original) e Sarabi (Alfre Woodard). Mas Simba está a mercê de jogos políticos aos moldes de Shakespeare e logo se vê encurralado pelos planos de seu tio Scar (Chiwetel Ejiofor).
Prometendo que fugiria e não aparecesse nunca mais, Simba foge de seu destino e encontra em seus novos amigos Timon (Billy Eichner) e Pumba (Seth Rogen) uma nova filosofia, sem preocupações ou responsabilidade.
Mas a tranquilidade de uma existência sem compromissos é abalada quando ele precisa encarar Nala (Shahadi Wright Joseph na juventude, Beyoncé como um adulto) que o encontra em sua busca desesperada por ajuda. Simba não pode mais ignorar mais seu passado e precisa recuperar seu lugar de direito como rei da Pedra do Rei. John Oliver (Zazu), Florence Kasumba (Shenzi) e Keegan-Michael Key (Kamari) completam o talento da voz.
As performances vocais são perfeitas, o que é mais do que se pode dizer dos outros remakes 2019 em live action da Disney, Aladdin e Dumbo. E personagens coadjuvantes ganham mais destaque, a exemplo da hiena Shenzi, que recebe um pouco mais de linhas (embora não seja um personagem aprimorado ou tenha papel significativo na história), e Timon e Pumba, como esperado, roubam o show assim como seus antecessores, seja por algum novo gracejo roteirizado ou um compilado por meio das habilidades de improvisação de Eichner e Rogen.
Uma das cenas mais importantes (sim, aquela cena), porém, perde em relação ao original. Enquanto os olhos de Simba encaram com horror a manada de antílopes em sua direção, seu sucessor mal consegue transparecer emoção em um dos momentos-chave do longa. É uma pena, os esforços dos atuantes traduzem emoção, mas ela se perde no realismo exarcebado.
É difícil imaginar os millennials, ou até mesmo os Gen-Xers, optando em mostrar aos filhos essa versão do filme em vez do original animado. Mesmo 25 anos depois, a trilha sonora e a trilha sonora ainda são convincentes e, dado que o roteiro continua praticamente inalterado, tudo que funcionou narrativamente na primeira vez funciona novamente aqui. Alguém que nunca viu a versão original provavelmente poderia aproveitar verdadeiramente essa versão. Mas a pergunta que fica é: por que eles deveriam?
Em última análise, como Avatar, essa última versão de O Rei Leão provavelmente deixará mais uma marca na forma como Hollywood faz filmes do que na cultura pop como um todo. Mas o lado positivo é que a Disney está mostrando melhorias em cada um dos remakes de live action de 2019.
O trailer do próximo esforço da companhia, Mulan, parece despojado e promissor, e o elenco da Pequena Sereia, junto com a contratação do atual diretor musical Rob Marshall com novas músicas pensadas por Lin-Manuel Miranda, é um sinal muito melhor do que qualquer coisa em torno dos últimos remakes. O novo O Rei Leão vai ganhar muito dinheiro, com certeza, e completa a sua difícil missão com alguns tropeços: unir gerações. Mas estamos falando de uma história aos moldes de Shakespeare.
O Rei Leão estreia em 18 de julho.